'O diretor é responsável pela aprendizagem'

Desde 2003, a educadora está à frente da
Academia de Lideranças de Nova York, instituição que já formou 1.600 diretores,
a maioria com atuação em áreas de vulnerabilidade social. A seguir, Irma explica
como funciona essa capacitação que inclui curso de formação inicial, um ano de
residência e programa de mentoria.
O que motivou a criação da academia?
Há nove anos, o prefeito e o secretário de
educação perceberam que havia muitos diretores da cidade que se aposentariam em
breve e que não havia um grupo de novos profissionais capacitados para as vagas.
Dessa necessidade, várias fundações e empresas se uniram e criaram um fundo para
abrir a Academia de Liderança. Nascemos, portanto, com o objetivo fixo de
recrutar, capacitar e providenciar a colocação desses novos diretores.
E já havia o perfil do diretor ideal a ser
buscado?
Sim. Partimos do pressuposto de que a pessoa
não deve aprender apenas a cuidar dos aspectos administrativos, mas também
conhecer métodos didáticos, estar apta a ajudar os professores a melhorar suas
aulas e saber como desenvolver um currículo. Porque para ser um diretor, é
preciso saber o que é ser um bom professor e conhecer as noções básicas de como
ensinar alunos Por isso, já selecionamos candidatos com essa vontade de
aprender.
Era uma condïção?
Era. Além de ter habilidade em lidar com as
pessoas, se expressar bem, saber gerir seu próprio tempo, ter o hábito de dar
retorno sobre a execução de uma tarefa e estar aberto a ter o trabalho avaliado
e, se necessário, rever suas ações. Verificamos isso em textos e dinâmicas. Por
fim, a última parte da seleção é uma entrevista sobre didática.
Por que eles já são professores, não é?
Exatamente. Por uma exigência estadual,
precisam ter no mínimo três anos de experiência em sala de aula. É assim que
podemos ter uma ideia do que eles sabem, de quem são, se são apaixonados, se
querem efetivamente fazer os alunos aprenderem. Também vemos os que não se
importam em trabalhar em um lugar em que a situação não seja tão boa assim, e,
pelo contrário, demonstram interesse nas escolas mais difíceis. Isso é visto
logo, porque não se pode convencê-los a fazer depois de já terem sido
selecionados.
Passado o filtro, como funciona exatamente essa
capacitação?
A primeira fase é um curso de verão de seis
semanas onde nós os treinamos em um cenário que simula uma escola e onde ele
deve resolver problemas, tomar decisões e ajudar seus alunos a melhorarem seu
desempenho. Sempre trabalhando em equipe. Nós os forçamos a trabalhar em equipe
porque assim, ao irem para a escola, vão privilegiar o trabalho conjunto dos
professores e farão questão de trabalhar em parceria com os docentes. Porque lá
na frente, se ele verificar que os alunos estão indo mal em matemática, precisa
trabalhar com os docentes de matemática para melhorar os resultados. Afinal,
tanto ele como o professor são responsáveis pelo aprendizado de cada
estudante.
Ao final desse tempo, ele se torna um diretor
aspirante, mas não assume uma escola. É isso?
Isso. Segue para um ano de residência em uma
escola gerida por um diretor mentor selecionado e treinado pela academia. Esse
mentor sabe os pontos fortes e fracos do aspirante, a quais situações ele deve
ser exposto e os aspectos que precisa desenvolver. Então, de várias formas
durante o ano, o aspirante não só observa como o diretor mentor trabalha, mas
tem a oportunidade de assumir certas responsabilidades para se posicionar, tomar
decisões, trabalhar com os professores, ir para a sala de aula, obter retorno
etc. É só no fim dessa residência que ele obtém a qualificação para assumir uma
escola. E mesmo assim não é sozinho. Em seu primeiro ano de trabalho, um
treinador vai acompanhar seu desenvolvimento nos pontos que ambos acreditam que
ainda possam ser melhorados.
E quem paga por isso?
O Departamento de Educação da Cidade de Nova
York. Grande parte da verba que tínhamos nos primeiros anos acabou. Agora a
prefeitura precisa pagar por todos os gastos. Por isso, querem ter certeza de
que nós estamos gerando bons líderes para o sistema.
É possível mensurar os impactos no rendimentos
dos alunos?
Há um estudo da Universidade de Nova York que
mapeou os diretores formados pela academia com outros novos diretores que
começaram a trabalhar na mesma época. A constatação foi que as escolas com baixo
desempenho que foram assumidas por nossos ex-alunos conseguiam obter melhores
resultados em artes em língua inglesa. Em matemática, diminuiu muito a lacuna de
aproveitamento que havia entre essas escolas carentes, com professores mais
inexperientes e que foram assunidas por nossos ex-alunos, e as que
historicamente tinham resultados melhores por estarem em regiões mais
favorecidas. Deu tão certo, que, neste momento, um em cada seis diretores da
Cidade de Nova York é um ex-aluno da academia.
E a satisfação dos diretores?
O índice de satisfação do treinamento que
fazemos com os diretores no primeiro ano deles é bastante alto. Está na casa dos
90% de aprovação.
Há alguma parte do trabalho que vocês
desenvolveram que é ministrada a distância?
Apenas em outras cidades, distritos e estados.
Quando trabalhamos com o estado do Missouri, desenvolvemos módulos de
treinamento on-line porque eles tinham treinadores que trabalhavam com novos
diretores de escola, mas queriam ofercer capacitação para esses seus
treinadores. Mas estamos pensando no que mais poderíamos fazer para desenvolver
o ensino a distância.
No Brasil, a situação mais comum é oferecer
capacitação aos diretores depois que já foram selecionados,
seja por concurso, eleição ou indicação.
O que você acha disso?
Respondo com uma pergunta: quando essas pessoas
são selecionadas, seja de que forma for, como se sabe que elas serão capazes de
realizar o trabalho? Como saber se estão preparadas para dirigir uma
escola?
13%
foi a taxa de reprovação no ensino médio, entre escolas públicas e privadas, em 2011. Um aumento de 5% em relação à 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário