quarta-feira, 8 de agosto de 2012

TDAH, uma ilustre desconhecida

Ela é uma criança inquieta, seja em casa, na rua, ou na escola. É comum que perca os objetos, independente se tem valor afetivo ou financeiro, sejam caros ou baratos. Em certos momentos parece possuir um universo particular, viver no mundo da lua e se algo a define é a desatenção. Nunca termina o que começa a fazer e tem dificuldades de acompanhar o ritmo de sua turma de classe. Bem-vindo ao universo dos portadores de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, mais conhecida como TDAH, que acomete entre 4% e 6% da população mundial causando graves problemas sociais e de saúde pública.

Trata-se de um transtorno neurobiológico com forte base genética, cujo centro do problema está no lobo pré-frontal, região localizada próximo à testa e que ocasiona dificuldades de atenção e na realização de atividades executivas e de controle do tempo, devido a ausência de conexões com o resto do cérebro. Apesar disto, o TDAH continua quase desconhecido por profissionais da área daeducação e mesmo dos profissionais de saúde. Há ainda desinformação, muito em virtude de seus sintomas serem confundidos com birra infantil. É comum para os acometidos serem chamados de preguiçosos, mal educados, bangunceiros, folgados. Por isso, muitos chegam à idade adulta sem serem diagnosticados.

Segundo a pediatra e herbiatra (cuidadora de adolescentes) Luiza Katharine Meira Pires, integrante da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), a dificuldade está justamente pelos sintomas se confundirem com o comportamento normal do desenvolvimento humano. Que pequeno não corre daqui para lá o dia todo, esquece as tarefas ou se distrai com um passarinho que passa voando? No entanto ela ressalta que a falta de controle nessas situações é maior e tais ações mais intensas. "O comportamento tende a gerar conflitos dentro da família. Começa a ser excluída pelos parentes, nenhum colega quer brincar com ela, que fica estigmatizada", explica a pediatra.

A exclusão desencadeia problemas de auto-estima, o que leva o TDAH a vir acompanhado de outras patologias. Não tratado, serve de base para o desenvolvimento de problemas como depressão, ansiedade, envolvimento com drogas, bipolaridade, transtorno obsessivo compulsivo ou de oposição. "São adultos que não possuem relações longas, casam várias vezes, não param em emprego, são impulsivos. Muitos pensam que são anormais, quando descobrem o que têm, sentem um grande alívio", conta a profissional. Especialista em comportamento e desenvolvimento, Luiza atualmente atende a 52 pacientes, 90% deles com TDAH.

De acordo com a ABDA, o transtorno - reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) - foi mais detalhado a partir da década de 1960, embora existam casos em diversas partes do mundo desde o século 19. Não tem cura. Resta aos pais permanecerem atentos já que ele aparece na infância e acompanha o indivíduo por toda a sua vida, o que não os impede de desenvolver atividades normais em qualquer área, desde que adequadamente tratados. "Uma parte da população não acredita na TDAH, ainda cercado de muito preconceito, mas ele existe e pode ser controlado", garante Luiza Pires. Portanto é possível ser desatento, elétrico, desorganizado e feliz.

"São adultos que não possuem relações longas, casam várias vezes, não param em emprego, são impulsivos. Muitos pensam que são anormais" .

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