sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Reflexão sobre o ano letivo que finda

Compartilho com vocês, leitores, uma pertinente reflexão sobre o final do ano letivo da colega Elizabeth, que tive acesso no Blog Espaço Educar, muito interessante e retrata a realidade de muitos educadores brasileiros.
Mais um final de ano letivo. O cansaço mistura-se a frustração de não ter conseguido certas coisas que julgávamos tão importantes. A vontade ambígua de parar e descansar e ao mesmo tempo aproveitar os últimos minutos para tentar modificar algo. A eterna inadequação.
Quantos alunos felizes, sorridentes, lendo e relendo, criando textos que nos deixam eternamente emocionados, escrevendo cartinhas que para sempre guardaremos. E um grupo menor, aquele que não conseguiu, mais uma vez. O olhar para trás, a análise do que está errado, do que fizemos de errado ou do que deixamos de fazer para ajudar. Havia ajuda possível? Fizemos nossa parte? Qual era nossa parte? Em meio ao tumultuado dia a dia numa sala de aula, é difícil dividir alguma coisa em partes, todas as coisas parecem compartilhadas, angústias são de todos, dores repartidas, problemas sociais divididos na falta do lápis, no emprestar do lápis de cor.
Escola. A maior alegria de uma escola ainda reside nestas alegrias e tristezas de sala de aula. É quando a porta se fecha que a janela para a vida se descortina. E é por detrás daquela porta que ainda somos felizes. A escola, por pior que possa parecer, não é um lugar de pessoas felizes. A escola sobrevive a seus embates diários, se arrasta entre vidas e pensamentos opostos e incongruentes. A escola é a pior parte da educação; e a melhor parte dela habita os olhos dos meus alunos. As suas falas, os seus bilhetes e recadinhos de carinho, os seus avanços diários compartihados na felicidade geral da turma. E que - pasmem! - não interessa a escola! A Escola é a burocracia, são os documentos, pontos, atrasos e faltas numa folha onde somos números e não cabem erros ou humanidades.
Nem sempre sei se sigo em frente, tenho sempre a impressão de uma grande peça de teatro. Não poderia ser real o que vivemos na escola. Se a escola fosse escrita a giz, num quadro negro, eu apagaria toda a escola, e deixaria aquele brilho nos olhos do aluno que conseguiu ler! Aquele sorriso contagiante no rosto da menina que compartilha lápis de cor, sentada ao lado de uma amiga. Eu deixaria o que menos importa para quem dirige a escola. Deixaria todos os pequenos detalhes que passam despercebidos para quem só enxerga a burocracia. E que nos transforma todos em robôs, e assim, autômatos da escola e imbuídos de toda a sua frieza que exige silêncio e organização, prosseguimos.
Terminamos sempre como se nem fôssemos mais o que éramos. E o cansaço da adaptação à escola é sempre tão grande, estamos dormindo mal, comendo errado, estamos todos tentando caber. Todos tentando ser um pouco normais aos olhos alheios. Por que os olhares dos outros são sempre tão importantes?
É preciso sobreviver aos olhares, sobreviver ao grupo, sobreviver à escola para conseguir ter o que a escola tem de melhor: o brilho no olhar, o sorriso nos lábios e a ingenuidade da infância.
Em que outro lugar se poderia dar o melhor de si? A Escola tira o melhor que possuimos porque precisamos nos adequar, não podemos ser eternamente inadequados a ela. E assim, completamente moldados pela escola, seguimos, com nossos diários de classe em dia, com nossos planos de aula em dia, nossas turminhas enfileiradas e tristemente silenciosas. Prosseguimos com nossa eterna preocupação em vista do barulho da classe e do professor ao lado. Prosseguimos mantendo o silêncio, exigindo quietude e organização, em nossos ralos exercícios mecanizados que ajudam a manter a situação vigente do país. Porque a escola não sobrevive a aulas barulhentas e criadoras, a escola não sobrevive a ruídos de felicidade. Ela foi e será sempre assim: acinzentada. Acinzentada de gente que ficou igual, tristemente igual.
A única coisa que podemos fazer, em vista de todas estas questões é entrar de férias.
E sentir o coração apertar no peito de deixar a turminha querida e todos os nossos momentos lindos que nem interessam à escola, não importam.
E sempre sinto falta das outras turminhas. Dos pequenos dos quais não me despedi. Eu sei que eles se lembrarão.
A verdade é que em final de ano sentimos falta até de quem não deveríamos sentir. E o deveríamos nunca cabe na lógica. A lógica não esteve na escola, ninguém ensinou à lógica que há coisas que ultrapassam, coisas que marcam, que ficam, perduram e serão sempre importantes, apesar de tudo. E o tudo fica sempre tão pequenino diante do amor que nutrimos a certas pessoas e lugares que não deveríamos amar. Voltando à questão do deveríamos... Num sem fim, num sem lugar, num completo e intransigente incompreender, humanidade, teu nome é inadequação.

Fonte: http://espacoeducar-liza.blogspot.com/#ixzz1gf1YpTbp

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A importância de se educar para as emoções

Por muito tempo, e até os dias atuais, as ideias de Alfred Binet sobre a mensuração da inteligência por um único teste padronizado de inteligência, o chamado Quociente Intelectual – QI, foram utilizadas em inúmeras seleções e avaliações psicológicas, sendo determinante para o reconhecimento e ascensão de um bom estudante ou profissional.
Com o passar do tempo e a contestação dessas ideias por outros estudiosos, como o psicólogo Howard Gardner, por exemplo, que desenvolveu a teoria das Inteligências Múltiplas, os fundamentos de Binet foram, aos poucos, sendo substituídos por conceitos mais elaborados e profundos sobre o comportamento e o desenvolvimento psicológico dos indivíduos.
Apesar de se saber da importância da intelectualidade no século presente, essa capacidade não se constitui como única determinante para o pleno desenvolvimento psicointelectual do sujeito, pois é muito relevante também que o indivíduo possa se desenvolver emocionalmente, o que Daniel Goleman chama em seu livro “Inteligência Emocional” de Quociente Emocional – QE. Goleman ressalta que a crise que a humanidade vive hoje, com aumento da criminalidade, violência e infelicidade é o reflexo de uma cultura que se preocupou apenas com o intelecto, esquecendo o lado emocional da pessoa.
Tanto o QI quanto o QE podem ser desenvolvidos e potencializados, dependendo da orientação da pessoa que pretenda desenvolvê-los. Concebe-

se, portanto, que esses quocientes não têm a qualidade de serem estáticos, mas podem ser aprimorados e desenvolvidos durante a vida do indivíduo.
Ainda segundo os estudos de Goleman as pessoas só utilizarão 15% do que aprenderam na escola na sua vida prática, enquanto a inteligência emocional demanda 85% da capacidade do indivíduo na sua convivência social.
O questionamento que se faz é: Por que se dá tanta ênfase ao ensino apertado, ao cumprimento rigoroso de programas, provas, testes dentre outros, e se ignora ou desconhece-se a Inteligência Emocional? Não é proveitoso formar-se adultos, estudiosos, cientistas cultos se não sabem lidar com o outro, se são sujeitos frios, desprovidos de sensibilidade e humanismo.
A importância de se educar as emoções é notável, pois uma pessoa educada, emocionalmente, é um ser equilibrado, que sabe lidar com uma variedade de situações do cotidiano e com as pluralidades de ideias, pessoas e sentimentos. Destaca-se que educar para as emoções não significa abandonar os conteúdos do currículo escolar convencional, mas integrá-las de forma que sejam trabalhadas constantemente, destacando sempre seu caráter inter e multidisciplinar.
Como destaca o educador Paulo Freire “e escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima”. A escola não é uma mera construção de concreto e cimento, mas uma célula viva, viva como a própria educação, não consiste, portanto, numa experiência fria, mas repleta de ações, vivências e emoções.
As instituições escolares e os pais precisam atentar para o fato de que qualidade no ensino não significa horas exaustivas de estudos e notas boas, mas a capacidade do educando ser autônomo, ter autonomia para (re) elaborar conhecimentos; colaborativo, saber lidar com o outro e trabalhar em equipe; e um ser criativo, dinâmico. O memorável educador Rubem Alves destaca que muitas escolas não passam de jacarés. Devoram as crianças em nome do rigor, do ensino apertado, da boa base, do preparo para o vestibular. É com essa propaganda que elas convencem os pais e cobram mais caro... Mas e a infância? E o dia que não se repetirá nunca mais? Infelizmente o Brasil ainda tem muito dessas escolas, “escolas jacarés”.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

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Parabéns a TODOS os voluntários da TRIBO VISÃO SOLIDÁRIA...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Alunos deficientes, por Içami Tiba

A maioria dos professores sabe que em uma sala de aula não há um aluno que seja idêntico a outro, como em qualquer outro ambiente em que se juntem pessoas como na família, na escola, na igreja, no trabalho, na sociedade, onde quer que seja. No planeta, cada terráqueo é um ser humano distinto do outro com suas características pessoais que nenhum outro terá totalmente idêntica.
O que diferencia um humano do outro são, na sua imensa maioria, os padrões e traços adquiridos após o nascimento através da infinita capacidade que os humanos têm de absorção, de aprendizagem, de desenvolvimento e de práticas constantes,como cultura, religião, idioma, habilidades específicas, alimentação, padrões sexuais etc.
O nosso nascimento dependeu de uma união de óvulo e espermatozoide em um ambiente adequado, útero ou similar artificial. Num mesmo país, depende da região em que se nasce, da família do qual nasceu, das condições locais de saúde, cultura, costumes, nível social, financeiro, religioso etc. Ninguém nasce por vontade própria. Mesmo a própria condição da família é diferente a cada nascimento de um filho, o que o torna diferente dos demais irmãos. Por mais que as variáveis sejam parecidas, cada filho é resultado de uma soma que ninguém ainda conseguiu calcular o número exato de quantas ações, reações e interações químicas, bioquímicas, fisiológicas, aconteceram para se chegar ao DNA de cada um...
Somos todos resultados de um sem-número, portanto, quase infinito, de crescimentos, desenvolvimentos, associações positivas e negativas que torna totalmente impossível encontrarmos dois seres humanos totalmente idênticos. Ponto final.
Partindo desta ideia de que somos totalmente independentes e muito diferentes uns dos outros, estabelecemos um padrão comum encontrado para subdividir os humanos em grupos. Os que pertencem e os que não pertencem a um padrão médio de funcionamento. Se escolhermos um padrão médio de funcionamento humano, seja o da locomoção, da audição, da visão, da articulação da voz, da inteligência racional, encontraremos os fora deste padrão como o paraplégico, o surdo, o cego, o mudo, o deficiente mental etc. Todos estes são deficientes em relação ao padrão considerado

- portanto são diferentes da média, mas não são desiguais. Todos devem receber o que lhes são devidos, principalmente na educação.
Estarão as famílias, as escolas, a sociedade preparadas para educarem pessoas deficientes? Com certeza, não. Os diferentes até há pouco tempo eram isoladas pelos “normais” (que têm o padrão médio considerado), e pouco se fazia para integrá-los à sociedade.
Existe ainda hoje o preconceito contra os deficientes quando trata estes seres humanos que têm, com certeza, outros padrões que se encaixam na “normalidade”, rejeitando-o como um todo. Inclusive este preconceito existe e por ser negado e não enfrentado e superado, os professores “normais” não estão sendo preparados nas suas formações acadêmicas para atender os alunos deficientes junto com os “normais”. O ensinar o deficiente tem suas características específicas e, agrupá-los em algumas atividades específicas determinadas pelas suas dificuldades, torna-se tão necessário quanto valorizar seus padrões não diferentes, incluindo-os em atividades comuns.
Como pode um professor em sala de aula atender pessoas deficientes no meio de tantos “normais”? Como pode um professor deixar de atender alunos deficientes se sua matéria não depende do padrão deficiente que um aluno tenha para aprender?
Estamos ainda muito próximos do jurássico comportamento de isolar o deficiente quando o que ele mais precisa é ser ajudado a ser integrado, tanto pelos “normais” quanto por ele mesmo.